Unidade 3.2 - Expressões das Sexualidades na Internet, Indicadores e Manifestações

Unidade 3.2

Parte 1

Nesse tópico ainda mais sensível do que o Cyberbullying, o volume de dados disponíveis é muito menor e a dificuldade para pesquisar o tema muito maior. Ainda assim, temos alguns dados de pesquisas no Brasil que nos ajudam a observar a evolução da prática de tirar nudes e os contatos com conteúdos sexuais na Internet entre os adolescentes.
Na pesquisa sobre hábitos de uso da Internet por crianças e adolescentes realizada pela SaferNet em 2009, 12% dos alunos indicaram já ter compartilhado algum conteúdo sexual, 22% já tinham namorado pela Internet e 31% tinham recebido ou encontrado conteúdo de pornografia on-line. Na ocasião, 3% informaram que já tinham sido chantageados por um adulto na rede. A pesquisa com educadores sinalizou que 6% deles sabiam de algum caso de aluno que fora aliciado sexualmente pela Internet, sendo que na época (2009) 40% dos professores não sabiam como denunciar esse tipo de caso.
Já na outra pesquisa da SaferNet com adolescentes e jovens realizada em 2013, 20% dos alunos indicaram ter recebido imagens ou textos eróticos e 25% admitiram namorar pela Internet, como apontado no gráfico abaixo.

Dados Sexting

Uma outra fonte de dados que podemos mencionar são as enquetes da plataforma U-Report do UNICEF Brasil. A enquete acerca de nudes consultou adolescentes e jovens sobre suas opiniões em relação às práticas de produção e compartilhamento de nudes. Dentre os 678 participantes da consulta realizada em setembro de 2016, as respostas ficaram divididas, mas uma parcela muito grande admite já ter compartilhado nudes em algum momento e considera isso parte de sua liberdade sexual.
Dados Ureport1

Ainda que boa parte considere inadequada a prática de fazer e trocar nudes, o fato de 74% já ter recebido essas imagens alguma vez indica o quão presente essa prática está nas interações entre os pares. Os dados confirmam a percepção dos especialistas de que tanto meninos quanto meninas produzem imagens desse tipo. O envio de nudes foi sinalizado por 42% das meninas e por 57% dos meninos. Porém, como já sinalizamos antes, a violência e os danos causados pelos vazamentos são muito maiores contra as meninas e mulheres, que são vítimas de exposição sem consentimento.


Fonte: Enquete U-Report Brasil
Os casos que geram incômodo ou transtorno são mais comuns entre as meninas, considerando os pedidos de orientação recebidos pelo Canal de Ajuda da SaferNet, no qual os registros aumentaram nos últimos anos.

Casos no Canal de Ajuda da SaferNet


  • 2007 – 5 casos
  • 2008 – 29 casos
  • 2009 – 36 casos
  • 2010 – 25 casos
  • 2011 – 46 casos
  • 2012 – 48 casos
  • 2013 – 101 casos
  • 2014 – 224 casos
  • 2015 – 322 casos
  • 2016 – 301 casos
  • 2017 – 289 casos
  • 2018 – 669 casos
  • 2019 – 467 casos

  • Gênero em 2019:
    Feminino – 255 (55%)


Fonte: AVA - SED/SC

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Parte 2

Uma fonte de dados sobre a prática em questão e que possui maior amostragem nacional é a TIC Kids Online, pesquisa do CETIC sobre a qual já comentamos nos módulos anteriores. Os indicadores de 2018 apontam não apenas as experiências com o envio e recebimento de nudes, mas também os contatos com conteúdos sexuais a partir da Internet. Vejamos o que as crianças e adolescentes sinalizaram sobre o lugar da Internet nas suas buscas por informações e conteúdos relacionados ao tema:
Fonte: Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br)

O acesso aos conteúdos sexuais pela Internet cresce com a idade e se intensifica na adolescência, confirmando nossa discussão sobre as dúvidas, curiosidades e experimentações que começam na puberdade. Na média, metade dos entrevistados indicou que se sentiu incomodada com o acesso a esses conteúdos, nas diferentes faixas etárias, o que sinaliza que para a outra metade esse conteúdo pode ter gerado algum tipo de retorno positivo, ao menos na avaliação deles próprios. Como a Internet é composta por uma diversidade enorme de plataformas e possibilidades para essas experiências, vejamos os meios mais utilizados pelos adolescentes para acessar esse tipo de material.



Fonte:Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br)

Quando questionados sobre suas demais experiências vivenciadas ao usar a Internet, a pesquisa nacional mostra uma proporção pequena, mas ainda assim relevante de práticas de envio de conteúdo sexual (5% entre 13 e 14 anos e 11% entre 15 e 17 anos).

Fonte: Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br)

O fato de 17% dos adolescentes mais velhos indicarem que falam com alguém sobre sexo por meio da Internet não pode ser desprezado. Esse tipo de pergunta em uma pesquisa é muito sensível e a experiência dos pesquisadores alerta para uma grande subnotificação, ainda que essa parte do questionário seja de autopreenchimento. Se para adultos já pode ser considerado constrangedor falar de suas experiências sexuais, podemos imaginar a dificuldade para abordar o tema com adolescentes em suas residências. Os dados podem provocar reflexões importantes:

Para refletir...

  • Quem são as pessoas com as quais eles conversam sobre sexo?

  • Seriam amigos, profissionais de sites especializados em educação? Conversas com estranhos em sites de pornografia?
Uma questão evidente é que na ausência de outras fontes confiáveis para falar de sexualidade, e também das dúvidas sobre sexo, a Internet acaba sendo a única alternativa para muitas meninas e meninos. As chances de encontrar informações inadequadas, e mesmo de entrar em contato com pessoas mal intencionadas, será tão maior quanto menor o repertório de educação sobre sexualidade que os nossos alunos têm a oportunidade de construir nas atividades escolares e no diálogo familiar. Esse cenário reforça ainda mais a necessidade de incluirmos a dimensão da sexualidade na educação socioemocional, contemplando a Internet como meio de acesso à informação, como espaço de relacionamentos e como palco para as experimentações iniciais.
Se constatamos que as tecnologias digitais estão cada vez mais presentes nas atividades de estudo, de lazer e de relacionamento não nos surpreende que elas também passem a mediar as diferentes experiências sexuais. Refletir criticamente sobre essas experiências on-line pode ajudar os alunos a evitar situações de vulnerabilidade nessa dimensão tão importante da vida. As experiências sexuais precisam ser encaradas como parte de um processo mais amplo de desenvolvimento da sexualidade. Nas diferentes etapas, debater esse tema na pauta pedagógica é debater questões de ética, de respeito, de maturidade e de segurança no manejo das informações digitais.

 Notícias

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Objetivos
Refletir sobre o envio de mensagens, namoro on-line e envio de nudes entre as novas gerações. Quais são as principais vulnerabilidades? Como trabalhar o tema em projetos de educação para o respeito?   

Fonte: AVA - SED/SC.

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