Unidade 2.2 - Dados Sobre Cyberbullying no Brasil

Unidade 2.2

Parte 1

Como nos tópicos anteriores, reconhecemos o aspecto dinâmico do uso da Internet por crianças e adolescentes. Para lidar com essa realidade, os dados das pesquisas podem nos ajudar a compreender melhor o cenário de manifestação do Cyberbullying, ainda que não haja um registro nacional organizado e sistemático das ocorrências no país.
Além da ausência de dados locais detalhados para compreender o fenômeno nos diferentes contextos escolares, há dificuldades metodológicas para pesquisar o tema sem recair na confusão entre situações pontuais de incômodo ou violência e as ações repetitivas e sistemáticas que caracterizam o Cyberbullying. Ainda assim, temos alguns dados que nos ajudam a observar a evolução dos casos no país, tirando o tema da invisibilidade.

Pesquisas com alunos

Nas primeiras pesquisas sobre hábitos de uso da Internet realizadas pela SaferNet Brasil em 2009 como 2.525 alunos:
  • 36% sinalizaram que ao menos um amigo já tinha sofrido algum tipo de Cyberbullying
  • 7% sinalizaram ter sido vítimas diretamente
  • 67% dos alunos que foram vítimas indicaram que nem os pais  nem os educadores ofereciam referências e informações sobre uso seguro da Internet
Em 2009, indagados sobre o fenômeno, 26% dos educadores afirmaram já ter recebido alertas de casos de Cyberbullying relatados por alunos (a pesquisa foi realizada com mais de 900 professores de escolas públicas e privadas)


Em 2013, a SaferNet Brasil realizou nova pesquisa e identificou que 12% dos 2.834 participantes tinham sido vítimas de Cyberbullying, sendo que sofrer Cyberbullying foi a segunda situação mais temida por eles na rede, atrás apenas do receio de violência sexual.


Fonte: Pesquisa sobre Hábitos de Uso da Internet entre crianças, adolescentes e jovens - SaferNet Brasil 2013

O Cyberbullying também se destaca como a principal violação on-line nos pedidos de ajuda recebidos pela SaferNet Brasil no www.canaldeajuda.org.br. No ano de 2018 foram 407 casos relacionados a intimidação, ofensa e discriminação sofridas por meio de mensagens, publicações ou vídeos ofensivos. Pelos dados do Canal, meninas e mulheres são quem mais procurou ajuda.

Cyberbullying no Canal de Ajuda da SaferNet

Fonte: Principais tópicos no Canal de Ajuda da SaferNet Brasil (www.canaldeajuda.org.br) - SaferNet Brasil 2019

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Parte 2

Uma pesquisa nacional sobre o tema Bullying, realizada pela Organização Não Governamental Plan entre 2009 e 2010, indicava que a ocorrência do Bullying emerge em um clima generalizado de violência no ambiente escolar. 70% da amostra de estudantes responderam ter presenciado cenas de agressões entre colegas, enquanto 30% deles declararam ter vivenciado ao menos uma situação violenta no mesmo período. No âmbito da Internet, 16,8% dos respondentes sinalizaram que foram vítimas de Cyberbullying, sendo que 17% eram praticantes e apenas 3,5% vítimas e praticantes ao mesmo tempo. Naquele contexto, independentemente da idade das vítimas, o envio de e-mails maldosos era o tipo de agressão mais comum, sendo praticado com maior frequência pelos alunos pesquisados do sexo masculino.
Fonte: Fonte: Resumo da Pesquisa Bullying Escolar no Brasil / Plan 2010

Em 2009, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2009) do IBGE também sinalizou a ocorrência de situações de incômodo no contexto escolar. Cerca de 25,4% dos alunos de 9º ano do ensino fundamental tinham sido vítimas de "zoeiras" e intimidações ao ponto de ficarem magoados/incomodados/aborrecidos. Com relação à repetição sistemática, 5,4% indicaram que isso ocorria sempre ou quase sempre, aproximando os casos do chamado Bullying. Na versão de 2015 da mesma pesquisa, 7,4% dos alunos afirmaram que se sentiram humilhados e intimidados sempre ou quase sempre pelos colegas de escola. Quando perguntados se já haviam esculachado, zombado, mangado, intimidado ou caçoado de algum de seus colegas de escola nos trinta dias anteriores à pesquisa, 19,8% responderam que sim.


Fonte: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2015) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. (Destaques sobre Bullying nas páginas 70 e 71) 


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Parte 3

Conforme aumenta o uso das tecnologias digitais nas mais variadas dimensões da vida dos alunos, infelizmente as humilhações e intimidações já presentes no contexto escolar também vão se expandindo para as plataformas digitais. Sem desconsiderar a dificuldade de questionar crianças e adolescentes sobre essas situações de incômodo e violência, a pesquisa TIC Kids Online (CETIC.br) também oferece alguns dados sobre as ofensas e discriminações nas redes digitais.

Destaques

Desde a primeira versão em 2012 até 2018, o relato de casos de ofensas recebidas pela Internet tem crescido. Entre as crianças e adolescentes de 9 a 17 anos, a proporção dos que apontaram que foram tratados de forma ofensiva na Internet na pesquisa TIC Kids Online:
  • 15% em 2014

  • 20% em 2015

  • 23% em 2016

  • 22% em 2017

  • 26% em 2018

Além do aumento gradativo, é notável a ampliação dos casos conforme aumenta a idade, sendo mais recorrentes os casos com adolescentes entre 13 e 17 anos (33% em 2018).
Fonte: TIC Kids Online Brasil (Cetic.br)
Os dados da TIC Kids Online são muito importantes também ao identificarem o crescimento da proporção de adolescentes que afirmam agir de forma ofensiva na Internet. Enquanto essa era uma prática assumida por 14% dos entrevistados em 2014, 16% o admitiram na pesquisa de 2018. Considerando que muitos podem não reconhecer o teor ofensivo de suas manifestações na rede, o volume de casos pode ser ainda maior no cotidiano dos alunos. Outro indicador que merece atenção é o crescente contato de crianças e adolescentes com conteúdos de discriminação na rede. Ainda que sejam mais pontuais e relacionados a terceiros, há um risco de banalização de ofensas, preconceitos e apologia à violência que dificultam o aprendizado sobre os limites da brincadeira.

Mais um dado que surpreende bastante é perceber a enorme distância dos pais em relação a essa realidade. Na mesma pesquisa, em 2018, apenas 10% dos pais declararam que seus filhos sofreram algum tipo de ofensa na rede. Ao mesmo tempo, 26% das crianças e adolescentes brasileiros usuários de Internet relataram ter sofrido algum tratamento ofensivo on-line.
Esses dados nos levam novamente à urgente necessidade de diálogo entre as gerações: pais e educadores podem e precisam conhecer melhor os hábitos de uso da Internet por crianças e adolescentes para oferecer referências de segurança e cidadania.

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Parte 4

Uma outra pesquisa interessante apresenta opiniões de adolescentes e jovens sobre o Cyberbullying. Dentre os 282 adolescentes consultados pela plataforma U-Report do UNICEF Brasil em julho de 2016, 78% afirmaram ter sofrido algum tipo de violência pela Internet, com destaque para ofensas em publicações on-line. É interessante que, ao serem indagados sobre as estratégias para enfrentar o problema, 45% indicaram os próprios adolescentes como principais atores que devem ser acionados no combate a essa prática, seguido pelas escolas com 34% das respostas. Nesse grupo de adolescentes consultados, 35% admitem nunca ter recebido qualquer informação para lidar com o Cyberbullying, e dentre os que tiveram algum acesso, a primeira fonte é a imprensa, seguida pelas escolas. Ainda que a escola não seja a principal fonte de informações, a maior parte dos respondentes (85%) aconselharia um(a) amigo(a) que foi vítima a buscar ajuda com os professores ou familiares.
Fonte: Pesquisa sobre Cyberbullying no U-Report.
Sobre: U-Report é uma tecnologia que permite a participação de adolescentes e jovens em consultas sobre temas de seus interesses, por meio de enquetes, SMS e rede sociais. A ferramenta, desenvolvida pelo escritório de inovação UNICEF do Quênia, hoje está presente em mais de 15 países e gera dados estatísticos que são levados para autoridades, mostrando a voz dos jovens sobre assuntos como Cyberbullying, qualidade da educação, HIV, racismo, entre outros.


Comentários 2:25 min


Além de ser muito importante compreender as manifestações do Cyberbullying no cenário nacional, é vital que cada instituição escolar tenha algum retrato de sua realidade local para orientar suas atividades de prevenção.
Como sugerido no Módulo 1, realizar uma enquete com a participação direta dos alunos para, então, cruzá-la com os dados nacionais pode ser um ótimo início. O Cyberbullying também é uma preocupação em outros países, com sinais de crescimento desde as primeiras pesquisas em 2010. Tanto os casos de Bullying quanto os de Cyberbullying estão relacionados às formas de discriminação que amparam algumas das relações sociais entre os alunos, reproduzindo preconceitos, desrespeito e intolerância às diferenças físicas, de gênero, religiosas, étnicas ou econômicas.
Nos diferentes países, a cor da pele, a aparência física, a orientação sexual, a classe econômica, a religião ou alguma deficiência costumam ser os disparadores das situações de intimidação, humilhação e agressões. Com auxílio das tecnologias digitais, essas violências podem virar sistemáticas e transpor para a Internet as relações sociais baseadas na intolerância.
O Cyberbullying, muito mais do que um problema isolado na escola ou apenas caso de polícia, remete ao enorme desafio de educar para uma cultura de paz dentro e fora das escolas. As leis valem e precisam ser aplicadas também na Internet, mas o desafio maior é educar para que as crianças e adolescentes percebam o valor da diversidade e compreendam os limites entre as brincadeiras e a violência, evitando adotar esses comportamentos violentos na rede como em qualquer outro espaço social.
Fonte: AVA - SED/SC.

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